A Psicologia e a angústia





ANGÚSTIA

A angústia é condição de existência. A busca dos porquês já aparece na infância, mas a criança tem a crença de que seus pais sabem tudo e isso alivia a angústia. Ela tem a quem recorrer. Os adultos descobrem que só tem como recorrer a si mesmos e, nessa história, muitas vezes se sentem confusos e regridem buscando fora de si as respostas para a sua dor.
Angústia é mais que isso, ela é dor e libertação ao mesmo tempo. Ela não surge porque algo que gostaria que acontecesse não ocorreu, ela surge como condição de questionamento da própria vida e assim sendo, abre espaço para se buscar uma qualidade de vida melhor.
A angústia é um convite ao homem para que ele olhe para si como um horizonte cuja paisagem é desenhada, em esboço, por suas próprias mãos, e este olhar causa dor, porque nos convida a renascer e qualquer nascimento dói, mudar de estado causa, a princípio, medo, muitas vezes pânico, mas também revela a força da plasticidade de nosso espírito e as inúmeras possibilidades de nossa jornada existencial.
Um bebê ao nascer abandona um estado de ser para entrar num outro estado desconhecido. Nasce junto com ele a sua primeira angústia, seguida de ansiedade. Este sentimento está correlacionado a uma mudança biológica drástica, o coração pulsa, a busca de ar muda de lugar, passando a depender dele. O que antes vinha pronto passa a depender de sua atitude.
O medo do novo se associa a mudanças corporais cujos efeitos chamamos de ansiedade.
Muitas vezes repetimos este padrão primário, quando sentimos medo, o coração acelera e a respiração falta, é uma marca que se reedita no decorrer da existência.
Repetir este padrão é, portanto, natural, faz parte do desenvolvimento do homem. E este desenvolvimento é marcado por muitos perigos, já que cada etapa de nossa maturação produz mudanças que geram ansiedade - mudanças biológicas e medo frente ao novo.
A ansiedade advinda da angústia coloca em primeiro plano o mal estar consigo e com o mundo. Chama o homem para a sua singularidade, para o seu "eu", para a responsabilidade em escolher e exercitar a liberdade da escolha, ao mesmo tempo, convida-lhe a assumir por completo a insegurança de sua condição - a consciência da fragilidade, bem como lhe abre os olhos para o fato de que o sentido aparente das expressões de sua alma cobre outro, latente.
Esta fragilidade seria um estado do espírito onde se tem medo de quebrar. Nos vemos como cristais, algo raro e indefeso, qualquer toque mais forte pode quebrá-lo, mas um olhar profundo enxerga a sua beleza e vê que ele é multicolorido.
Assim sendo, a fragilidade também traz força, mas precisamos saber olhar direito. O olhar se perde quando não se aceita o cristal e se busca uma rocha, quando brigamos com sua natureza.
Nos angustiamos quando não queremos aceitar nossa fragilidade, e buscamos fora de nós algo que fortaleça a nossa estrutura frágil, porém, o cristal continuará frágil e cedo ou tarde revelará que é cristal.
Quanto mais se luta contra, mais se fere. Quanto mais não se aceita a condição, mais confuso fica o espírito.
O processo terapêutico investiga o que motiva as ilusões no homem e trabalha a sua desconstrução, assinalando que o aprisionamento em sintomas, idéias falsas a respeito da vida e de si próprio aparecem para mascarar este encontro, para fazer com que o homem fuja da agonia que é ser responsável por sua existência.
E é somente estando aberto à essência total e não disfarçada da angústia, que o homem tem a possibilidade de se abrir para a liberdade e encontrar o amor e a confiança em si mesmo.
A liberdade humana implica na escolha do destino que se quer abraçar como vida; implica em ser responsável por seu processo existencial, podendo, nesse processo, enxergar a essência do que se é.

 
Coluna No Divã - assinada pela Dra. Marisa Martins - Psicóloga - CRP: 06/30413-0
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