ATENÇÃO AO ESCORPIONISMO



Dados de 2017 – os mais recentes disponíveis – não deixam dúvida sobre a importância do escorpionismo no cenário da saúde pública no país: no ano, 130 mil acidentes foram notificados, com quase 200 mortes – números que confirmam a tendência observada há uma década. Já em 2007, as picadas de escorpião superaram o ofidismo e responderam por 1/3 dos acidentes por animais peçonhentos. A tendência é de crescimento também na incidência, em especial nas regiões Nordeste (97,2 casos por 100 mil habitantes em 2017) e Sudeste (62,7 por 100 mil).
A proliferação dos escorpiões explica o aumento dos casos. A biologia e o comportamento desses aracnídeos facilitam sua sobrevida mesmo em condições adversas. O aumento das temperaturas em anos recentes se tornou mais um fator para o aumento da presença das espécies venenosas. A isto, agrega-se a precariedade dos bolsões urbanos de pobreza, que facilitam a proliferação e dificultam o controle.
Cabe aos serviços públicos de saúde organizar e manter iniciativas para o controle dos escorpiões e prevenção de acidentes. Ao médico, reconhecer os casos de escorpionismo; e, principalmente, distinguir entre os casos leves e os casos com manifestações sistêmicas.
Em geral, os acidentes causam apenas dor local, que ocorre imediatamente após a picada, acompanhada de eritema, sudorese e parestesia. Envenenamento sistêmico, que acomete, na maioria das vezes, crianças abaixo de 12 anos, é muito mais grave. A presença de náuseas e vômitos é sinal premonitório do quadro, que pode evoluir com sudorese profusa, sialorreia, diarreia, dor abdominal, taquidispneia, taquicardia, arritmia cardíaca, convulsão, edema agudo pulmonar, hipotensão e choque. Quando acontecem, esses sintomas são observados já na primeira hora após a picada. Nessas circunstâncias, o tratamento antiveneno é fundamental para neutralizar o veneno circulante.
O Instituto Butantan é o principal produtor de soros hiperimunes no Brasil, incluindo o soro antiescorpiônico, contra o veneno de escorpiões do gênero Tityus, e o soro
antiaracnídico, produto trivalente que, além de neutralizar o veneno do Tityus, é também indicado no tratamento de picadas por aranhas Loxosceles e Phoneutria. Para a produção desses antivenenos, a instituição mantém um biotério de escorpiões com aproximadamente 14 mil exemplares das diversas espécies de interesse para a saúde.
A meta da Secretaria da Saúde do Estado é reduzir a mortalidade por acidentes com animais peçonhentos a zero nos próximos quatro anos.

Fonte: Dimas Tadeu Covas "hematologista e diretor do Instituto Butantan" - Revista Ser Médico nº 87


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