Características clínicas e diagnóstico da Depressão Bipolar



Ritmos Biológicos

Atualmente se considera que o TB seja um problema associado a alterações dos ritmos biológicos. São muito variáveis os horários de sono, as atividades e o hábito alimentar. A privação de sono pode desencadear novos episódios. Isto é grave para pacientes que varam noites seguidas em atividades e estudantes de Medicina ou médicos com rotina marcada por plantões, cujo TB nem foi detectado. Além da farmacoterapia indispensável, apropriada a cada caso, faz parte da “dieta” manter rotina de atividades e preservar o ciclo sono-vigília, bem como evitar álcool, drogas, estimulantes, energéticos e antidepressivos (estes com ressalvas), que agravam os sintomas mistos e podem desencadear novos episódios.

Os transtornos do humor são condições médicas crônicas, prevalentes, de início precoce e cujo prognóstico é tanto melhor quanto menor o tempo entre o início dos sintomas e o tratamento apropriado.

Diagnóstico

Antes de iniciar o tratamento com antidepressivos para todo paciente que procura atendimento com queixas depressivas, é de extrema importância indagar sobre sintomas prévios de (hipo)mania. Porém, muitos pacientes tendem a não os referir, seja por ausência de crítica, seja por esquecimento de episódios anteriores. Nesses casos, é importante investigar a história objetiva com familiares.

Informações sobre preditores clínicos do TB devem ser colhidas já na primeira avaliação, pois auxiliam a diferenciar de imediato depressão pura de depressão bipolar. Dentre os itens listados na Tabela 1, a história familiar de TB é o mais importante, mas este dado costuma demorar a ser confirmado. Quanto mais elementos estiverem presentes na história, maior a probabilidade de se tratar de TB, caso família e paciente sejam incapazes de lembrar de períodos (hipo)maníacos passados.

Fatores preditores de diagnóstico diferencial da depressão bipolar

Carcterísticas clínicas
• Sintomas psicóticos 
• Sintomas atípicos (hipersonia, hiperfagia, “paralisia de chumbo” e reatividade do afeto a estímulos positivos) 
• Impulsividade, agressividade e hostilidade 
• Comorbidade com quadros ansiosos e abuso/dependência de substâncias
• Presença de sintomas maniformes subclínicos (atuais ou durante o tratamento, o que requer rastreamento contínuo)
• Prejuízo funcional importante
Dados presentes na história
• Primeiro episódio depressivo mais precoce (dez anos em média mais precoce que depressão unipolar), especialmente antes dos 25 anos
• História familiar de TB
• Episódios depressivos múltiplos e recorrentes
• Resposta ausente ou inadequada (ciclagem para hipomania, mania ou com sintomas mistos, inquietação, agressividade, instabilidade do humor) com antidepressivos/estimulantes



*Doris Huppfeld Moreno é médica psiquiatra, mestre-doutora em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da USP, coordenadora do Ambulatório Integrado de Bipolares (AIBIP) do Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria da Faculdade Medicina da USP (IPq-HCFMUSP) e médica assistente do Instituto de Psiquiatria (IPq) do HC-FMUSP.

Diego Freitas Tavares é médico psiquiatra, doutorando pelo Departamento de Psiquiatra da USP, coordenador do Ambulatório Integrado de Bipolares (AIBIP) do Programa de Transtornos Afetivos (Gruda) do Instituto de Psiquiatria da FMUSP, coordenador do Programa de Transtorno Afetivo Bipolar (Protab) da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e pesquisador do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria da FMUSP.

Edoardo Fillipo de Queiroz Vattimo é médico psiquiatra e conselheiro coordenador da Assessoria de Comunicação do Cremesp.
Referências
1.    Yatham LN, Sidney HK, Sagar VP, Ayal S, David JB, Benicio NF, et al. Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT) and International Society for Bipolar Disorders (ISBD) 2018 guidelines for the management of patients with bipolar disorder. Bipolar disorders. 2018;20(2):97-170.
2.    Moreno DH, Tavares DF, Moreno RA. Subtipos de transtorno bipolar. In:Nardi AE, Da Silva AG, Quevedo JL, organizadores. Associação Brasileira de Psiquiatria.  PROPSIQ Programa de Atualização em Psiquiatria: Ciclo 6. Porto Alegre, RS: Artmed Panamericana; 2017. v. 2, p. 9-58.  (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 2).  
3.    Yildiz A, Ruiz P, NemeroffC, editoress. The bipolar book: History, neurobiology, and treatment. Oxford University Press; 2015.
Fonte: Revista Ser Médico nº 86

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