Projeto para criar dicionário etimológico de língua portuguesa é lançado

projeto para a criação de um dicionário etimológico para a língua portuguesa
Projeto de criação de dicionário etimológico para a língua portuguesa
pretende gerar dados para a consulta de linguistas e profissionais de
 outras áreas interessados em etimologia. - © LÉO RAMOS

Ao longo dos séculos, uma palavra latina transmitida pela boca do povo, sem interferências da norma culta, transformou o som “T” em “D” quando entre vogais. Assim, “Civitatem” virou “Cidade” e “Mutum”, “Mudo”. Em outros casos, muitas palavras não seguiram o curso regular e acabaram tendo interferência de outras palavras. Como no caso da fruta chamada “Bilancia”, que se assemelhava a um melão e que acabou se transformando em “Melancia”. Essas e muitas outras informações linguísticas podem, em breve, estar disponíveis em um dicionário etimológico da língua portuguesa aberto ao público.
O núcleo de apoio à pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa (NEHiLP) da Universidade de São Paulo (USP) lançou na última quinta-feira, 26, um projeto voltado ao desenvolvimento de um dicionário, de acordo com os padrões internacionais, com o propósito de auxiliar pesquisadores que se dedicam a aspectos históricos, fenômenos ou fatos linguísticos ligados ao idioma — assim como os dicionários etimológicos Oxford, para a língua inglesa, e Le Robert, para a francesa —  com datações precisas, abonações referentes à primeira ocorrência das palavra, suas flexões e múltiplos significados e ortografias.
A língua portuguesa, entre todas as línguas europeias, é a única que não conta com um dicionário etimológico com as características exigidas pela linguística histórica, filologia e outras áreas do conhecimento, observa o linguista Mário Eduardo Viaro, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da USP e coordenador do projeto recém-lançado. “Sem uma boa etimologia, toda a pesquisa em linguística histórica pode ser comprometida”, diz. Segundo ele, à exceção do Houaiss, não há nos dicionários etimológicos da língua portuguesa menção à datação da primeira ocorrência das palavras, por exemplo.
Também muitas informações encontradas nos dicionários da língua portuguesa são falhas quanto aos seus dados etimológicos. Neles, segundo Viaro, confunde-se derivação sufixal e prefixal — a formação de novas palavras a partir de uma palavra primitiva — e etimologia, parte da gramática que trata da história ou origem das palavras. “Em vez de dizerem que a palavra ‘otimista’ vem do francês ‘optimiste’, dizem que vem de ótimo+ista e isso, além de simplista, é falso do ponto de vista histórico”, diz. “Também não há um cuidado suficiente com os étimos de línguas ágrafas, que não têm ou não admitem escrita, isto é, não têm alfabeto”, afirma.
O projeto para a criação de um dicionário etimológico para a língua portuguesa é resultado de uma pesquisa conjunta entre a Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e o Instituto de Matemática e Estatística (IME), ambos da USP, desenvolvida de 2013 a 2014. O objetivo à época era criar um programa de computador em que fosse possível verificar se um texto submetido tinha palavras mais antigas que as constantes nos bancos de dados dos pesquisadoreso nosso programa, Moedor, analisa qualquer texto datado e confronta palavra por palavra com o que estiver no nosso banco de dados”, explica. “A seguir, ele indica se a palavra processada é mais antiga ou não que a do nosso banco. Se for mais antiga, sinaliza em vermelho. Do contrário, a palavra fica azul e espera a inserção das informações. Além disso, ele pré-classifica as palavras, auxiliando o pesquisador.”
Agora, o grupo de pesquisadores — formado por especialistas em filologia e linguística — pretende analisar documentos antigos e atuais com objetivo de organizar a informação linguística e gerar dados para a consulta tanto de especialistas em linguística como de outras áreas que estejam interessados em etimologia. Além do fichamento das primeiras datações de vocábulos e de suas acepções, o NEHiLP pretende disponibilizar informações históricas classificadas segundo suas características sociolinguísticas e estilísticas, associadas à informação sobre frequência de uso.
Fonte: Revista Fapesp




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