Parece mentira. Só que não...



Estava tranquila, apesar do trem lotado das 18 horas, ouvindo o Deezer. De repente... a música parou e percebi que só restavam o fone no ouvido e o fio pendurado.
– Meu Deus, roubaram meu celular!
Como por milagre abriu-se um espaço no vagão. A maioria, muito solidária, procurava no chão, para ver se, por acaso, ele havia caído. Um rapaz pediu o número e ligou, para ver se tocava em algum lugar. “Não está na sua bolsa?”, “Na sacolinha da marmita?”. (Quer parar de reparar na sacolinha da marmita?).
Não, não está. Foi aí que me lembrei daquela senhorinha bem idosa. Juro. Aquela, que entrou na estação Pedro II, parou atrás de mim, me espremeu um pouco, e desceu no Brás. Nãoooo... pelo amor!
Foi quando outro senhor idoso (esse aparentemente decente) captou meu pensamento. “Aquela senhora não estava com você? Notei que segurou na sua cintura quando entrou, mas logo saiu”. Silêncio, caras de espanto. “Rapaz, que safada”...
Por favor. Não digam algo como “podia ser alguém com um facão e agora você estar no IML”. Isso não diminui a raiva.
Bora bloquear o celular. Entrei na loja da operadora, falei meu número. Mas a mocinha deve ter achado mais fácil puxar pelo CPF. Minha filha, Clara Beatriz, bem que tentou me avisar que o meu celular, mesmo bloqueado, estava recebendo mensagens. Isso antes de o celular dela ser bloqueado – e ela ficar na rua, incomunicável, só para aumentar minha angústia. Bingo. Ambos estavam no meu CPF, só que o dela tornou-se “indisponível”, enquanto o meu, funcionando na mão da senhorinha pilantra.
Ok. Comprei outro smartphone. Não o mais moderno. Um igual – em 10 x no cartão. Tempos difíceis. Ainda não sei se os contatos vão voltar e se os amigos, conhecidos etc. vão retornar à lista, porque estamos ainda naquele perío­do de latência típica das operadoras... Tenham paciência comigo, tá?
Por quê?
1. A história da senhorinha ladrona não foi o início dessa fase “veja bem”.
Tudo começou na segunda-feira, quando entendi o porquê de haver sobrado uma graninha no final do mês. Fui limpar minha bolsa e encontrei o boleto do condomínio do apê de Santos, enroladinho, no fundo. Sem pagar. Desde o dia 15. É. Multa!
2. No dia seguinte fui à feira. Adoro. Discuti com o cara da barraca de legumes porque ele quis me dar R$ 5,00 a menos no troco. Praguento. Ao chegar em casa, antes mesmo de entrar, notei que o cartão de débito não estava mais no bolso, juntinho com meu bilhete único.
Sim. Olhei dentro de todos os saquinhos: da abóbora, chuchu, banana...
Pode estar na sacola com a ração do cachorro! Não estava lá. Voltei à petshop, cheia de esperança. “A senhora colocou no bolso, eu vi”. Afffff... Fiquei bem mal-humorada. Perder o cartão do banco, um dia antes do pagamento do salário, não é auspicioso.
3. O que me deixou um pouco mais tranquila? Sim, tenho o Itoken pra fazer as transações on line! Iuhhuuuu! Mas... sabem onde o Itoken está agora, né? No celular furtado, e, provavelmente, dentro da bolsinha de crochê da senhorinha do metrô.
4. Vocês não vão acreditar, mas a noite, no dia do furto, terminou assim: a garrafa de vinho que compramos para me animar um pouco caiu por um buraco do saquinho do mercado. Espatifou-se na garagem.
5. No final, em vez do vinho, o William, meu marido, pegou duas cervejas na padaria. Para não dizer que foi uma semana azarada – e olha que já tive outras semelhantes –, já tínhamos bebido a cerveja quando quebrei nossas duas únicas tulipas de chopp, agorinha, quando fui lavar a louça...
E juro, pela Clara Beatriz, que é tudo verdade.

Concília Ortona - Jornalista do Centro de Bioética do Cremesp, especialista em Bioética e mestre em Saúde Pública (USP)  - Fonte: Revista Ser Médico - Edição 80

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