Nova curva de crescimento avalia bebês ainda no útero
Tamanho do feto pode ser comparado ao padrão
desde o início da gestação
Toda mãe sabe da importância de curvas de crescimento para avaliar o desenvolvimento do feto e do bebê. Mas até agora não havia uma curva validada para crescimento fetal. Isso muda com a publicação de dois artigos na revista The Lancet de 6 de setembro. Um dos artigos propõe um padrão internacional para o desenvolvimento dos bebês durante a gestação. Outro apresenta um intervalo de valores considerados adequados para um recém-nascido saudável. De acordo com coordenador do trabalho, o argentino José Villar, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, o novo padrão indica que ao menos 30 milhões de bebês já nascem subnutridos a cada ano. Quanto mais cedo o problema for detectado, mais tempo se tem para tentar corrigir a alimentação e evitar sequelas que podem chegar à idade adulta.
As curvas de crescimento propostas agora foram desenvolvidas pelo Consórcio Internacional sobre Crescimento Fetal e de Recém-nascidos para o Século XXI (Intergrowth-21st) reuniu mais de 300 pesquisadores de 27 instituições. Ao longo de 5 anos, foram medidos o comprimento, o peso e a circunferência da cabeça de quase 60 mil bebês nascidos em áreas urbanas do Brasil, da China, da Índia, da Itália, do Quênia, de Omã, do Reino Unido e dos Estados Unidos. Com esses dados, os pesquisadores propuseram uma faixa de valores esperados para um bebê que se desenvolveu sem privação de nutrientes apresentar nos primeiros minutos após o nascimento. O projeto também monitorou o crescimento de quase 4.500 desses bebês do início ao fim da gestação, por meio de medições semelhantes feitas em ultrassonografias, e criou curvas que mostram o crescimento esperado do feto no interior do útero . “A impressão é que vai aumentar a proporção de recém-nascidos no mundo que vai ser considerada com crescimento intrauterino deficiente”, prevê o pediatra Fernando Barros, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que integra o consórcio junto com o colega César Victora.
Uma mudança importante introduzida pelo consórcio é a constatação de que os fetos seguem a mesma curva de crescimento nas diferentes populações estudadas, independentemente da estatura média dos adultos, conforme mostra artigo publicado em julho pelo mesmo grupo na Lancet Diabetes & Endocrinology. Barros prevê que o resultado causará discussão, já que muitos médicos preconizam a adoção de curvas adaptadas à realidade de cada população.
O problema é que, em populações nas quais deficiências alimentares são frequentes, o uso de uma curva local pode mascarar a subnutrição em fetos. Para contornar essa dificuldade, o Intergrowth-21st adotou como padrão gestantes em boa saúde e com bom padrão socioeconômico. “O estudo mostra que, se pegamos mulheres com as mesmas condições, o bebê vai crescer igual. Se esse padrão de crescimento vai continuar vida afora é outra coisa, uma vez que o ambiente exercerá sua influência por meio de fatores como infecções e alimentação”, explica o pesquisador gaúcho.
No Brasil, a cada ano nascem cerca de 3 milhões de bebês. De agora em diante os médicos têm uma boa ferramenta para avaliar a necessidade de cuidados adicionais para que essas crianças se desenvolvam da melhor maneira possível.
Artigos científicos
VILLAR, J. et al. International standards for newborn weight, length, and head circumference by gestational age and sex: the Newborn Cross-Sectional Study of the INTERGROWTH-21st Project. The Lancet, v. 384, n. 9946, p. 857-868. 6 set. 2014.
PAPAGEORGHIOU, A. T. et al. International standards for fetal growth based on serial ultrassound measurements: the Fetal Growth Longitudinal Study of the INTERGROWTH-21st Project. The Lancet, v. 384, n. 9946, p. 869-879. 6 set. 2014.
VILLAR, J. et al. The likeness of fetal growth and newborn size across non-isolated populations in the INTERGROWTH-21st Project: the Fetal Growth Longitudinal Study and Newborn Cross-Sectional Study. The Lancet Diabetes & Endocrinology, on-line 7 jul. 2014.
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp
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