Aplicativo ajuda a mapear hábitos alimentares


Se você, como muitos, é usuário assíduo das redes sociais, sabe que, ao usá-las, deixa rastros que podem ser convertidos em informações sobres seus gostos e preferências. Agora, um grupo de pesquisadores do Brasil e da Inglaterra criou uma metodologia que busca usar dados compartilhados em redes sociais em estudos sobre o comportamento urbano e a dinâmica de cidades do mundo. Em um estudo apresentado na 8ª Conferência Internacional sobre Weblogs e Mídias Sociais, promovido nos Estados Unidos (EUA) pela Associação para o Progresso da Inteligência Artificial (AAAI, em inglês), os pesquisadores usaram dados de centenas de milhares de usuários do aplicativo Foursquare para mapear os hábitos de alimentação de pessoas de diversos países, como os lugares onde comiam ou o número de refeições que faziam durante o dia.
Criado em 2009, o Foursquare é um dos mais populares aplicativos do mundo, com 45 milhões de usuários. Com ele, o usuário registra sua localização exata por meio da opção check-in em um fórum onde pessoas compartilham dicas e comentários sobre lugares que visitaram. “Com base em nossa metodologia, esses usuários funcionariam como sensores sociais, ao fornecerem voluntariamente dados que capturam suas experiências de vida diárias”, explica Thiago Silva, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e responsável pelo estudo, em parceria com colegas da UFMG e da Universidade de Birmingham, Inglaterra.
Os pesquisadores mapearam os check-ins relacionados a locais para comer e beber, vistos como um sinal da preferência por determinados tipos de restaurante. Em seguida, identificaram escolhas individuais, como o gosto por um tipo de comida ou bebida, e os hábitos temporais — a hora e o dia da semana em que a pessoa ia, por exemplo, a um restaurante ou bar. Aplicaram, então, uma técnica de agrupamento para identificar barreiras e semelhanças culturais entre cidades e países por meio dos hábitos alimentares dos usuários.
Observaram que os britânicos e os americanos costumam fazer sua refeição principal na hora do jantar. Já os brasileiros, na hora do almoço. Também verificaram que os brasileiros costumam ir aos chamados restaurantes “slow food” na hora do almoço, enquanto os britânicos e norte-americanos frequentam esses ambientes à noite. Constataram, ainda, que os hábitos alimentares de quem vive em cidades do Brasil e EUA tendem a ser parecidos entre si. A exceção foi Manaus, onde os hábitos alimentares dos usuários do Foursquare mostraram menor correlação com os hábitos de usuários de cidades de outras regiões do Brasil.
No estudo, os pesquisadores também analisaram possíveis correlações de hábitos alimentares entre países. Verificaram que Brasil e França compartilham hábitos de consumo de bebidas semelhantes, apesar da distância geográfica. Isso porque brasileiros e franceses costumam frequentar estabelecimentos que servem os mesmos tipos de bebidas. “Hábitos alimentares e de bebida são elementos fundamentais de uma cultura”, explica Silva. “Os tipos de dados com que trabalhamos têm escala global. Isso significa que pudemos estudar hábitos de usuários no mundo inteiro, identificando também a distinção entre hábitos culturais”, diz.
Não é a primeira vez que pesquisadores usam dados compartilhados em redes sociais para identificar hábitos e comportamentos de populações diversas. Em um deles, investigaram preferências de cor em fotos compartilhadas via Instagram, observando que os gostos mudavam de acordo com a cultura do usuário. Em outro, estudaram variações no modo de usar o Twitter entre países, sugerindo que as diferenças culturais também se manifestam na forma como as pessoas usam a rede social. O denominador comum de estudos desse tipo, observa Silva, é a busca por informações úteis e correlações cientificamente embasadas em meio à gigantesca massa de dados produzida pelas redes sociais.
Silva explica que as formas tradicionais para estudar o comportamento social urbano, como questionários, geralmente são caras. “Dados compartilhados em redes sociais de localização, como o FoursquareInstagram e Waze, podem, assim, auxiliar estudos do comportamento social urbano”, diz. Segundo ele, a metodologia permitiria o estudo da dinâmica cultural de uma forma rápida, já que captura expressões culturais atuais em tempo real e a baixo custo. “Nossa metodologia pode ser bastante útil para empresas que têm negócios em um país e deseja verificar a compatibilidade das preferências por seus produtos em mercados de outros países, por exemplo”, diz o pesquisador.
Artigos científicos

SILVA, T. H. et alYou are What you Eat (and Drink): Identifying Cultural Boundaries by Analyzing Food & Drink Habits in FoursquareProceedings of 8th AAAI Intl. Conf. on Weblogs and Social Media. 2014.
SILVA, T. H. et alLarge Scale Study of City Dynamics and Urban Social Behavior Using Participatory SensingWireless Communications, IEEE. v. 21, n.1, p. 42-51. 2014.


Fonte: Revista Pesquisa Fapesp
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