© PEDRO FRANZ São Paulo, 2052 Por ser feito de um material ligeiramente orgânico que lhe conferia forma próxima à nossa, revestindo a secura de finas camadas de silício, foi chamado de biociborgue. Se fosse pelo meu pai, cientista premiado, não o teríamos comprado. Meu velho sempre defendeu um extenso pessimismo em torno do mundo das máquinas e, mais ainda, dos ambientes e objetos sencientes que trouxeram fortes mudanças à cultura. Cultura aquela que muitos, apressadamente, relutavam em denominar, ainda, de “humana”. A respeito do biociborgue, meu pai me advertia: “Convém não chamá-lo por um nome, filho. Convém precaver-se. Trata-se de qualquer outra coisa que não um irmão”. Sobre a caixa metálica em que recebi o produto, dois anos atrás, lembro-me de ter lido o nome “Arthur”. Coisa encantadora foi aquilo: acionado por voz, o garoto de minha idade assentou-se e me passou, em cerca de dez minutos, todas as informações que eu poderia desejar sobre seu funcionamento. Era um ...