Mulheres sofrem mais com problemas gastrointestinais?

Os distúrbios gastrointestinais estão entre as queixas mais comuns quando as mulheres procuram atendimento médico.

​A maioria das doenças gastrointestinais em mulheres não é diferente daquelas que ocorrem em homens. Existem vários distúrbios, no entanto, que ocorrem com maior frequência ou se manifestam de forma diferente nas mulheres. 


Motivos

“É desconhecido o motivo pelo qual mulheres têm maior percepção de problemas gastrointestinais ditos funcionais tais como indigestão, gases, cólicas, distensão abdominal e constipação intestinal (prisão de ventre)” afirma dr. Sérgio Araújo, cirurgião do aparelho digestivo do Einstein e diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia Einstein. 
 
Acredita-se que fatores hormonais possam ser a causa para essa ocorrência. Outra relação curiosa é a que ocorre entre alterações do estado emocional e a percepção de sintomas gastrointestinais. Persiste desconhecido se as alterações emocionais são a causa ou consequência de distúrbios gastrointestinais. No entanto, essa discussão perde a importância quando se constata que os sintomas gastrointestinais associados ou não a distúrbios emocionais impactam significativamente a qualidade de vida das mulheres. 
 
Entre os principais problemas estão:

Sensação de globus (bola na garganta): Entre o final do esôfago e o começo do estômago, há um músculo que age como uma porta. Quando comemos, a porta se abre permitindo que a comida deslize para dentro do estômago. O músculo das mulheres, parece se fechar com mais força do que nos homens, garantindo que a comida e os sucos gástricos permaneçam no estômago. Existe um músculo similar que protege a via aérea do refluxo de alimento deglutido que está no esôfago. Nas mulheres, os testes mostraram que depois de beber líquidos, este músculo aperta mais do que nos homens. Em parte devido a esse achado, as mulheres podem ter mais ocorrências de “globus” (a sensação de bola na garganta). 

Azia (ou queimação): Porque as mulheres são mais sensíveis aos irritantes, elas podem sentir azia mais fortemente do que os homens. Várias coisas podem precipitar sintomas de azia, incluindo alimentos condimentados ou ácidos, cafeína, grandes refeições, obesidade ou comer antes de deitar. 

Dispepsia (empachamento, náuseas e distensão abdominal): As mulheres também parecem ter um esvaziamento dos alimentos do estômago mais lento do que os homens. Isso pode ser importante para explicar por que as mulheres tendem a sentir náusea e distensão abdominal com mais frequência que os homens. Associadamente, muitas mulheres podem fazer uso de aspirina para prevenir problemas cardíacos ou mesmo anti-inflamatório para o tratamento de afecções ginecológicas. Essas drogas, se usadas persistentemente, são conhecidas por causar irritação no revestimento do estômago e podem levar a gastrite, úlcera ou mesmo o sangramento digestivo a partir dessas condições. 

Constipação intestinal crônica (pressão de ventre): a constipação crônica é comum em mulheres e tende a piorar com a idade. As mulheres também têm um esvaziamento mais lento do intestino grosso quando comparadas aos homens, mas essa diferença desaparece na velhice. Isso pode ser importante para explicar por que as mulheres tendem a ser mais constipadas do que os homens. 

Síndrome do Intestino Irritável: A Síndrome do Intestino Irritável (SII) ocorre de cerca de 4X mais em mulheres que em homens. Em pacientes com SII, há hipersensibilidade a irritantes (como gases intestinais) que não seriam incômodos para outras pessoas. Acredita-se que a causa seja devida ao modo como os nervos intestinais enviam mensagens para o cérebro. Se uma pessoa tem estresse emocional, a resposta da SII parece ser pior. A boa notícia é que não há danos no revestimento intestinal. Este é um problema “funcional” - isto é, o intestino não está funcionando em um nível normal, mas em um nível super ou sub-ótimo. Os sintomas geralmente incluem diarreia, constipação ou combinação de ambos. Inchaço e dor abdominal fazem parte da síndrome, e muitas vezes melhoram após evacuar. 

Doença inflamatória intestinal (DII): A doença inflamatória intestinal (DII) inclui tanto a colite de Crohn como a retocolite ulcerativa. Não existe uma causa exata para a DII. Ao contrário das síndromes anteriormente citadas, que são doenças funcionais, a DII é um processo inflamatório verdadeiro do intestino. A DII é cerca de duas vezes mais frequente em mulheres do que em homens.  Os sintomas podem incluir diarreia, sangue nas fezes, perda de peso e anemia. O diagnóstico é geralmente feito após a colonoscopia e revisão de amostras de biópsia por patologia. Hormônios durante a gravidez podem melhorar ou piorar a DII e isso não é semelhante para todas as gestações em uma mesma paciente. 

Câncer do intestino grosso: o intestino grosso é formado pelo cólon e reto. Por isso, esse tipo de câncer é conhecido como câncer colorretal. Trata-se da segunda neoplasia maligna mais comum em mulheres, atrás somente do câncer de mama. Os sintomas dependem da localização do tumor, mas frequentemente incluem o sangramento pelo reto e o aumento do número de evacuações. Em alguns casos, somente a anemia pode der identificada. As mulheres devem ser aconselhadas a seguir as diretrizes atuais para serem examinadas a partir dos 45 anos e conversar com seus médicos se tiverem um histórico familiar da doença, caso em que devem ser examinadas em uma idade mais precoce e em intervalos mais frequentes. Os pacientes devem discutir as opções de triagem com o médico para determinar a melhor opção de triagem individual. Existem síndromes familiares que também estão associadas com cânceres de útero, ovário e mama, portanto, se vários desses cânceres forem encontrados dentro de uma família, o aconselhamento genético deve ser oferecido.

Pedras na vesícula (colecistite calculosa): Assim como ocorre para a DII, não parece haver uma causa única ou direta para a ocorrência de pedras na vesícula biliar. O que se sabe é que as mulheres têm um esvaziamento mais lento da vesícula biliar do que os homens. Como resultado, são duas vezes mais propensas a desenvolver cálculos (pedras) biliares do que os homens. Este efeito é especial durante a gravidez devido a hormônios femininos únicos, e pode ser uma razão pela quais muitas mulheres desenvolvem cálculos biliares depois de terem um bebê. Os sintomas da doença da vesícula biliar podem incluir dor no abdômen superior direito após comer, náusea e vômito. 

Incontinência fecal: a incapacidade de segurar voluntariamente as fezes (incontinência fecal) é uma síndrome que acomete mais frequentemente as mulheres. Ocorre mais frequentemente a partir dos 50-60 anos como resultado de constipação crônica (o esforço evacuatório repetido leva à incontinência fecal em longo prazo, por isso deve-se tratar a constipação crônica). Porém, pode ocorrer em mulheres mais jovens como resultado de trauma direto sobre os esfíncteres (músculos) anais durante o parto vaginal associado à má-assistência. ​

Sintomas e prevenção

Os sintomas ditos “funcionais” que parecem acometer mais frequentemente as mulheres do que os homens podem ser manejados inicialmente através de medidas simples de higiene alimentar. Dr. Sérgio Araújo alerta “quando os sintomas são persistentes e não respondem às medidas abaixo sugeridas, é necessário procurar um médico paras que condições mais graves sejam devidamente identificadas ou descartadas”. Dessa forma, sintomas como sensação de gases podem ser tratadas através de uma mudança dietética, porém nunca através de automedicação. Da mesma forma, sinais como a presença de sangue ou muco nas fezes requerem investigação imediata. 

Sensação de globus (bola na garganta): mastigar bem os alimentos, comer devagar e de forma fracionada, evitar comer muito em uma única refeição e evitar bebidas gaseificadas.
 
Azia (ou queimação) e a dispepsia (empachamento, náuseas e distensão abdominal): diminuir ou evitar o consumo de aspirina ou anti-inflamatórios, evitar comer e se deitar e evitar a ingesta de alimentos muito gordurosos ou condimentados. 
 
Constipação intestinal crônica (pressão de ventre): Hidratar-se adequadamente, realizar exercícios e incluir na dieta alimentos ricos em fibras. Ingerir porções de frutas como lencinhos. 
 
Câncer do intestino grosso: realizar a prevenção do câncer do intestino grosso. Os exames para o rastreamento podem ser solicitados por qualquer médico e não é necessário que ele ou ela sejam especialistas. Incluem a pesquisa anual de sangue oculto nas fezes ou a colonoscopia.
 
Incontinência fecal: combater a constipação intestinal crônica e procurar assistência de saúde adequada por ocasião da gestação e do parto.

Fonte: Dr. Sérgio Eduardo Alonso Araújo, cirurgião do aparelho digestivo do Einstein e diretor médico do Centro de Oncologia e Hematologia Família Dayan - Daycoval
Publicado em: 23/05/2019

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