Antonio Prata* A odisseia de Homer S emana passada, tomei um susto. Sentado em minha poltrona, com uma caneca de cerveja numa mão e o controle remoto na outra, descobri que havia me transformado num marido. Nunca pensei que isso fosse me acontecer. Antes de mais nada, é preciso que o leitor entenda – e a leitora, mais ainda – que o fato de um homem se casar não o torna imediatamente um marido, assim como o fato de uma pessoa ouvir hip hop não faz dela um rapper. Para ser marido, como para ser rapper, é preciso ter certa atitude e certa indumentária. A condição marital requer, entre outras coisas, a existência de uma poltrona, de uma caneca, de um controle remoto e de uma relação afetiva levemente neurótica com tais objetos. Eu tenho. Ainda bem que descobri a tempo. Antes, pelo menos, de deixar crescer o bigode e começar a ir ao supermercado de moletom e tênis de corrida. Eu deveria ter desconfiado que havia alguma coisa errada meses atrás, durante a cerimônia de ...